A MUDA

Tem uma árvore que resolveu crescer bem na janela do meu quarto. Moro no quarto andar. E a coisa que menos gosto onde moro é que às vezes dou de cara com apartamentos em outros prédios... não pertinho. Mas me incomoda. Eu quero horizontes. Espaços. Quero respirar. Quero ver além... E não é que há bem pouco tempo percebi que a árvore que fica na avenida onde moro, bem em frente ao meu prédio, está chegando ao meu andar? Chegou de mansinho e agora está rapidamente alegrando minha vida. Sim, porque cada vez que olho para fora do meu quarto, vejo agora folhas verdinhas, em profusão. Talvez só agora, depois de morar dez anos aqui, mereci esse direito. Ou melhor, essa graça. O fato é que a cada dia meu "pé de feijão" cresce mais, cada vez mais verde, ocupando um espaço todo dele - e quebrando a dureza do concreto que me cerca. No dia-a-dia, isso faz toda a diferença. Dá uma sensação de que, quando a gente menos espera, quando até já quase que desistiu, as coisas podem acontecer. Parece pouco. Eu acho muito. (Do site Joyce Pascowitch)